O século XIV marcou um período de transição na prática da guerra medieval. A Cavalaria, considerada por muitos historiadores como a força dominante nos campos de batalha da Idade Média Central (séculos XI-XIII), passou a ser repetidamente desafiada. No centro dessas mudanças estava a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), longo confronto entre as coroas da Inglaterra e da França. Diante de pesadas derrotas da Cavalaria francesa para arqueiros e guerreiros desmontados ingleses em batalhas como a de Crécy (1346), criou-se uma tendência historiográfica de considerar que o século XIV marcou o declínio da Cavalaria. Entretanto, uma outra corrente, que ganhou fôlego a partir de metade da década de 1970, procurou revisar esta questão. No cerne deste debate reside o conceito de Cavalaria, instituição complexa e multifacetada que abarca o guerreiro aristocrático a cavalo, mas não se limita a ele, possuindo elementos militares, sociais, culturais e políticos. Esta obra se dedica a analisar a Cavalaria como era compreendida por aqueles que estavam engajados na dura luta da fase inicial da Guerra dos Cem Anos. Para este fim, elegemos a campanha que culminou com a Batalha de Crécy, escolhendo observar a Cavalaria no suposto ponto de inflexão de sua decadência. Pretendemos demonstrar, através da análise de crônicas e manuais – suplementada por cartas, tratados e poemas – que a Cavalaria permanecia uma força crucial para a aristocracia do século XIV, legitimando o poder de reis e informando a conduta de guerreiros, e que somente nos feitos das armas ela pode ser plenamente compreendida.
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